terça-feira, 10 de março de 2009

ROCK PARA CONSUMIR


Todos os dias nos outdoors, banners, pop-ups, nas revistas, no jornalzinho do bairro e dentro do metrô, a propaganda te incita a consumir, obter e tenta te seduzir ou te fazer entender que você precisa desesperadamente daquele produto.A televisão é de longe a maior vitrine dos comercias, anúncios e propagandas.E o que a música que você adora e sua banda do coração tem a ver com isso?
Entenda, por mais indenpendente que seja artista que você consome é um produto.Por mais desligado que finge ou parece ser, de alguma maneira, ganhar dinheiro com que se faz e gosta é o objetivo de todo mundo e não nenhum problema com isso. A questão levantada aqui é como isso pode soar exagerado e aparentemente querendo popularizar o rock para chegar mais perto do seu alvo, a publicidade banaliza ou descaracteriza os objetivos originais da música, que as vezes é fazer pensar e refletir e em outras é só faze você sorrir e te entreter.

Desde que Elvis e Beatles viraram fenômeno mundial e tudo que é relacionado ao mercado para que o rock se tornasse um produto vendável é que virou moda pegar pelos cabelos esse público tão rebelde mas, pelo amor ao seus ídolos, tão disposto a consumir tudo que for possível porque daqui a um tempo virá memorabilia, item de colecionador, coisa de fã.Seja através de algum agente espertalhão ou pelas gravadoras detentoras dos direitos e, talvez, por isso mesmo deitam e rolam na questão de ceder "por uma causa nobre" (leia-se mais dinheiro nos próprios bolsos) ou por pura estratégia de marketing, exibir o rostinho, emprestrar a voz ou ter a música como trilha sonora de comerciais tem sido uma tendência mundial.
Ligadas ao rock, a publicidade já produziu alguns clássicos. Aí vão uns exemplos que tenho certeza que sua memória apagou:
No filme The Doors de 91 (http://www.interfilmes.com/filme_20024_The.Doors-(The.Doors).html), uma cena inesquecível é o momento em que Jim Morrison, de saco cheio das armadilhas do showbizz, está, após um show, sentado com os companheiros de banda em um camarim assistindo TV, quando um comercial da Pirelli exibe uma versão vergonhosa à la Ray Conniff do seu maior sucesso, "Light my fire" (http://www.youtube.com/watch?v=6O6x_m4zvFs), como trilha. Os outros três integrantes, sentindo que o fim da banda estava próximo, ja sem shows e sem dinheiro venderam os direitos para a marca para que você exibido uma unica vez, o que certamente, rendeu aos envolvidos uma boa quantia. Indignado, Morrison se revolta, nao aceita o dinheiro e esse foi um dos motivos de sua mudança para Paris onde engordou, caiu no ostracismo e veio a morrer tempos depois de overdose. Depois dessa virou política do restante dos Doors não vender as canções para campanhas publicitárias, tendo já inclusive recusado ofertas milionárias da Apple e Cadillac com a justificativa de ser antiético para o legado do grupo e para a memória de Jim (!).

Avançando no tempo, nos anos 2000, com a digitalização invadindo todos os meios de comunicação possíveis e ao acesso mais fácil ao consumidor, virou moda usar a imagem dos ídolos para vender o mais variado tipo de produto. Ou vai dizer que qualquer menininha metida a rebelde (antes da febre RBD) lá em 2002 não achava legal andar por aí com a cara da Avril Lavigne estampada no caderno? O alvo preferido da publicidade são jovens entre 12 e 30 anos, essa grande margem do público influenciada pela música e pela imagem consume o estilo, roupas, acessórios, livros, discos e DVD´s. E nessa década o que não falta são exemplos de artistas que aderiram ou foram inseridos nessa onda.
Com a febre Malhação no ar e a revitalização do rock depois da invasão de pagode e axé (oque não vale a pena nem lembrar), a sempre estratégica Coca-Cola lançou um comercial com a então formação clássica do Charlie Brown Jr (com Champignon no baixo e Pelado na bateria). O comercial virou febre tanto que chegou a incomodar a então cult e apagada por opção banda Los Hermanos, mais especificamente seu vocalista Marcelo Camelo. As declarações dele sobre o resultado do comercial chegaram aos ouvidos do esquentadinho vocalista Chorão e gerou o episódio da clássica briga no aeroporto em Fortaleza
(
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u45628.shtml).


Também em 2004, a febre do emo ainda era embrionária mas CPM22 era um fenômeno. E seu vocalista Badauí fez uma inusitada parceria com os cubanos do Orishas no comercial de uma nova cerveja da Nova Schin (
http://www.truveo.com/Comercial-Nova-Schin-CPM22-Orishas/id/4021824203); antecipando talvez o que viria ser em 2008 o projeto Estúdio Coca Cola (http://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%BAdio_Coca-Cola), que o CPM também participou, desta vez numa parceria com o Babado Novo, ( e não é que ficou bom?); entre outras parcerias com outros artistas, mas não menos surpreendentes quanto essa.

Em 2006 com as duas até o momento maiores operadores de celular do Brasil brigando por clientes e exclusividades, a Claro sai na frente ao lançar músicas e aparelhos com wallpapers e mp3s de artistas. Além do Black eyed peas, um dos mais vendidos por aqui foi o da Pitty, que não cantou mas protagonizou o comercial ao lado do famoso chipinho http://www.youtube.com/watch?v=nvrXyfIsAa4.
Também em 2006, dois famosíssimos casos de estratégia de marketing foram lançados nos EUA. O primeiro, em março foi com o The Kinks que ressurgiu em trilha sonora de um comercial da Tide, empresa de produtos de limpeza. o maior sucesso da banda britânica em 1964, "All Day and All of the Night" (http://www.youtube.com/watch?v=F4DV-5d6a5g) foi a trilha da campanha. Antigos sucessos do grupo como "I'm Not Like Everybody Else" e "Everybody's Gonna Be Happy" também foram escutados em comerciais da IBM e da Abbott Labs, respectivamente.
No meio do ano foi a vez de Slash guitarrista do Velvet Revolver (ex-Guns n’ Roses) ser um dos músicos a aparecer nos comerciais de TV para a nova campanha de parceria entre as guitarras First Act e os carros Volkswagen (http://mais.uol.com.br/view/54lv7fbyyngx/comercial-volkswagen--slash-0402D8C19346?types=A&). Guitarras customizadas fabricadas pela First Act eram dadas para aqueles que comprarem os novos automóveis da VW, que ainda contavam com um pré-amplificador embutido, permitindo que o som da guitarra saia pelo próprio sistema de som do carro.

Em 2007, curiosamente o clássico "We're Not Gonna Take It", do Twisted Sister (
http://www.youtube.com/watch?v=g6srOAqpqj0) foi usado em um comercial de TV do anticoncepcional YAZ, descrito como "o único que comprovadamente trata dos sintomas emocionais e físicos que afetam a vida das mulheres que escolhem a pílula como método para evitar a gravidez."Criatividade ao extremo na cabeça desses publicitários que conseguiram enxergar na tiração de sarro de Dee Snider uma musica em prol da saude publica (http://www.youtube.com/watch?v=arxnoRm2GZw).

E quem diria! Em 2008 o Sepultura entrou na onda e protagonizou o comercial do novo Voyage.Rolou até uma bossa nova com um público estupefado ao ver Derick Green cantando "um coquinho caiu na areia". Como diz o texto da propaganda, essa era uma coisa impossível de ser imaginar ver o Sepultura fazer algum dia (
http://www.youtube.com/watch?v=dQmHs2rPJ24), mas com muito bom humor encarou esse desafio de 30 segundos e sem fazer cara feia.

Como diz o texto do blog Meio desligado em um post de junho de 2008 (http://www.meiodesligado.com/2008/06/indie-comercial.html), no Brasil não é só mainstream que se "vende", percebe-se também um crescimento do interesse de grandes empresas, de diferentes setores, em relação ao cenário musical independente. O patrocínio a festivais independentes é apenas uma continuação dos patrocínios realizados há anos, cujos principais marcos datam da década de 90, com eventos do tipo do Hollywood Rock, Close-Up Planet, Free Jazz, entre outros, passando pelos atuais Tim Festival, Nokia Trends, Planeta Terra e o falido Claro Q É Rock. Entre outras citam como trilha vendável o Forgotten Boys e a abobada Malu Magalhães que recentemente foi trilha de um comercial da Vivo e as tendências de "estamos notando vocês" de que é feito por exemplo com o download remunerado da Trama Virtual. Isso porque não falaram e naõ vou a fundo da questão: a literalmente maior jogada de marketing mundial chamada Guitar Hero? Quer tornar o rock popular? Coloque num game! Taí a fórmula perfeita para popularizar artistas independentes e fazer os veiacos faturarem beeem com direitos autorais. (Sim! Lá fora aparentemente isso funciona.)

Finalmente em 2009, até o carrancudo Bob Dylan liberou "Blowin' In The Wind" para um comercial que será veiculado na TV britânica. Segundo o site Brand Republic, a canção gravada originalmente em 1963, fará parte da campanha publicitária da The Co-operative, uma cooperativa britânica que reúne serviços variados desde lanchonetes, financiamentos e até serviço funerário. Esta é a segunda canção de Dylan que faz parte de um comercial. Em 2004, o cantor liberou a música "Love Sick" para uma campanha da marca de lingeries Victoria´s Secret.

E em tempos em que a nova diretoria da Tim resolve não realizar nem o famoso festival nem o esperado Prêmio anual (http://www.meioemensagem.com.br/novomm/br/Conteudo/?Tim_encerra_Premio_e_Festival_de_Musica), veiculadas no Brasil, duas propagandas recentes chamam a atenção por utilizar como trilha dois ícones do punk.E mesmo recentes, são para mim exemplos do que como não utilizar uma música num comercialNo início do ano, a Coca-Cola estreou no Brasil o comercial “Big Splash”, criado pela Ogilvy Argentina. O filme também é exibido em toda a América Latina, mais Japão e Itália. Com uma mensagem de otimismo através da assinatura “Sua felicidade transforma”, o comercial mostra uma explosão de cores e o mundo se transformando em uma gigantesca década de 1980, ou quase isso - na trilha sonora, a versão de Joey Ramone em um trabalho solo para “What a Wonderful World” http://www.youtube.com/watch?v=-YEWAGGLC_A&feature=related. A produção é da londrina Stink e quem autorizou foi o detentor dos direitos autorais, Mickey Leigh. O comercial é legal mas a exemplo de uma música também dos Ramones que foi trilha do desenho Jimmy Neutron versão longa metragem, me senti vendo um replay resumido do desenho. Sua felicidade se transforma em ver algo tão piegas? Antes se transformasse num grandioso anos 70, seria mais coerente, não acha? Será que algum Ramone tomava Coca (cola)?

A mais recente campanha da Claro, lançada neste mês é sobre o Teste Claro, que consiste em transferir seu número e aparelho e testar os serviços da Claro sem compromisso http://www.youtube.com/watch?v=ol-J3_RNMA0). A trilha da campanha? "Should I Stay or Should I Go" do The Clash. O objetivo da música todo mundo sabe. O comercial mostra pessoas em várias situações tipo caso ou não caso, corto ou não o cabelo, pulo ou não pulo na piscina e diz "não seria bom poder testar antes?" Em não pensaria duas vezes em trocar meu número para a Claro, nem sendo de graça para testar. Mas a questão não é saber se o serviço é bom ou não ( o que não é na minha opinião), mas a meu ver é tentar ser simpática ao usar músicas que você gosta e dizer "entre nessa, nos identificamos com vc"; como a Vivo também fez sem trilha para dizer que se adapta ao seu estilo.


A conclusão é que nesses exemplos não de fato nenhuma campanha que valorize o rock ou o artista. A não ser o Jim Morrison, nunca vi uma resposta do outro lado dizendo que se sentiu mau representado na propaganga. Há campanhas inteligentes aos montes (como a mais recente da Tim - veja em http://www.mentesemfronteiras.com.br/) e me envergonha ver um som que eu curto tão estrategicamente mal utilizado para um fim que não me convence. Mas é claro, que eles vão continuar gastando milhões e usando músicas que você gosta para tentar te seduzir. Seja forte!

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